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O que é um bode expiatório? De onde surgiu a expressão?

Bode expiatório é uma expressão popular usada para se referir a alguém, uma pessoa em que a culpa alheia é sempre recaída. Quando um ser leva para si só toda a culpa de um acontecimento, injustamente. Também serve para designar um indivíduo incapaz de provar sua inocência perante um fato ocorrido, onde muitas vezes o mesmo não percebe que está sendo usado como alvo. A palavra expiação tem por significado “purificação de crimes cometidos”. Sua origem é do Latim: expiatione.

Para entender a origem da expressão, deve-se recorrer às antigas tradições judaicas. Ancestralmente os hebreus organizavam rituais com intuito de purificar seu povo. No evento religioso eram levados dois bodes, um deles era escolhido por sorteio para ser levado ao sacrifício e o outro sobrevivente seria o Bode Expiatório, o animal que carregaria todos os pecados da comunidade. Em seguida este era deixado sozinho no deserto, para que todos os males ficassem dele distantes.

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Na religião

O termo está muito associado às histórias e passagens religiosas.  No Torá, o texto sagrado do judaísmo, é contado o ritual acima mencionado, dando à expressão e ao ato um cunho religioso e histórico. O dia do sacrifício dos bodes é então denominado como “O Dia da Expiação”, ou Yom Kipur, em hebraico. Esta data é celebrada até os dias atuais.


Na Bíblia também consta a passagem de um Bode Expiatório. Em Levítico (16, 20-23), um dos livros que compõem o Antigo Testamento, tal figura é interpretada como uma antevisão simbólica do sacrifício de Jesus Cristo, que toma para Si os pecados da humanidade. Outra interpretação muito comum, no cristianismo, é de que os dois bodes (usados no ritual hebreu) podem ser Jesus e Satanás.

Como não pode haver expiação sem derramamento de sangue, o primeiro bode, o escolhido ao sacrifício representaria Jesus. O segundo seria Satanás, que não é sacrificado, mas condenado ao isolamento e a uma morte solitária, para que reflita sobre os feitos maléficos que rogou contra a humanidade.


Observa-se também o uso do conceito de Bode Expiatório em diversas outras religiões e crenças como no Espiritismo e no Protestantismo.

Bode expiatório

Na História

Ao decorrer da História, ocorreram muitos exemplos de bodes expiatórios. Hereges, índios, negros, homossexuais, judeus, deficientes, imigrantes, mulheres, pobres… Em suma, minorias foram e são usadas como tal, por serem grupos em desvantagem histórica e social e comumente vistos como vulneráveis. Pode-se constar que a história da humanidade é rica em casos de grupos dominantes que tomaram grupos mais vulneráveis e até vistos como “fracos” para lhes sobrecarregar de culpa. Encobrem, assim, seus verdadeiros fins, como ganância, ambições e até mesmo dogmas ou crenças.

Para o filósofo francês René Girard (1923 – 2015) o conceito de Bode Expiatório pode explicar a violência na História. Em seus estudos, Girard notou que em tempos de crise este recurso é amplamente utilizado.

Em uma sociedade uma vítima é escolhida para canalizar todos os males do restante do grupo, assim o escolhido receberá todo o peso da agressividade, transformando uma possível revolta geral em uma união contra um único inimigo.

Um grande exemplo é o povo Judeu. Durante o período Nazista foram apontados como os grandes culpados pelos problemas da Alemanha.

No Brasil o episódio da Inconfidência Mineira e seu personagem Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é um exemplo de alguém que foi usado como Bode Expiatório. A condenação e morte de Tiradentes aconteceram, pois foi o único a assumir toda a responsabilidade da revolta, inocentando os demais companheiros. Outro exemplo, já na Europa, especificamente na história francesa, Alfred Dreyfus foi tido como Bode Expiatório em um processo de mais de uma década.

O militar judeu, acusado de traição à pátria, foi na verdade vítima de um complô encoberto por ódio e antissemitismo. Inocentado em 1906, seu episódio dividiu a França entre seus defensores e acusadores, até mesmo animais podem ser alvos de injustas acusações. No mundo ocidental, é comum a crença de que um gato de pelagem preta seja sinônimo de azar ou más premonições, carregando uma culpa predestinada.

Na Psicologia

No ramo da psicologia, é dado um nome à condição na qual um indivíduo se sente culpabilizado a todo instante: o “complexo de bode expiatório”. Esta temática é amplamente observada em consultórios. Há estudos que revelam que indivíduos que se identificam com tal condição sentem-se portadores de comportamentos e atitudes que os envergonham perante a sociedade. Podem sentir-se rejeitados, inferiores e culpados.

Culpam-se por fatos que vão além de sua parcela individual. Possuem comumente uma necessidade constante de aprovação social, não raramente, indivíduos portadores do “complexo de bode expiatório” evitam contato emocional direto, temem serem expostos, e são defensivos.

Podem apresentar dificuldades em criar vínculos ou sentirem-se seguros e acolhidos, tendem a acreditar que o mundo lhes deve algo, uma recompensa por estarem carregando tantos males, por serem uma vítima sofredora. Quando o indivíduo ainda é uma criança que, frequentemente, sente que não consegue corresponder às expectativas de terceiros, pode desenvolver uma personalidade de tal maneira complexada.

Existe também a “Teoria do Bode Expiatório” na psicologia social. Ocorre quando um grupo de pessoas canalizam seu ódio e preconceito contra outro grupo, culpando-o injustamente a fim de desabafar toda sua raiva.

Bode expiatório

Na sociedade

É, e sempre foi, muito comum grupos e pessoas serem usadas como Bodes Expiatórios. A Scapegoat Society, ONG britânica criada pela preocupação com vítimas de tal situação, difunde métodos para as mesmas se defenderem e não caírem nas mãos de seus predadores.

Ações como questionar o objetivo do difamador, se mostrar não disponível como alvo, manter máxima distância do difamador, assegurar que o difamador assuma toda a responsabilidade por tudo o que tenha creditado à vítima são algumas das medidas difundidas pela ONG.

Em outras línguas

O termo Bode Expiatório pode ser encontrado em outras línguas. Em inglês fala-se “scapegoat”; em francês “bouc émissaire”. Já em espanhol é usada a expressão “chivo expiatório”. Há também um sinônimo, menos conhecido na língua portuguesa, registrado por Antenor Nascentes, filólogo, que é “bode emissário”.

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